Objecto objecto objecto is a temporal mirror. For that reason, the author has produced two prior books, that were handled and photographed to create the third and final book.
It's as multi-layered handmade edition that fades in and fades out on the experience of being on the exterior of one's own actions.

OBJECTO OBJECTO OBJECTO
Texto de Carlota Gonçalves
“O livro, Objecto Objecto Objecto, de Fernando Marante, é uma edição de autor limitada a 50 exemplares, que se reflecte a si próprio, enquanto objecto de uma experiência singular de desdobramento e multiplicação de sentidos.
A lógica presente nesta obra centra-se na auto-referencialidade de um livro-objecto que se auto-representa, como sujeito activo de uma reinvenção infinita que se materializa folha a folha.
As imagens que o compõem vêm do trabalho Heterotipias, realizado pelo artista, e por ele recompostas e retrabalhadas, para se desenvolverem num todo deshierarquizado, que se objectiva ou subjectiva, à medida de cada olhar. Cada olhar pode então percorrer este invulgar objecto-livro, ou livro-objecto, à sua vontade e direcção, como uma descoberta incessante e altamente lúdica.
Delicado e forte, substancial e leve, Objecto Objecto Objecto, desenvolve-se de uma forma indisciplinada nos materiais (uso de papéis de várias naturezas), e nos conteúdos que se vão formando, desformando, numa rebeldia derivativa, que repete padrões gráficos e imagens modelares, abrindo um grande campo de possibilidades de inscrição e reinscrição das coisas.
A “coisa” é o próprio livro e tudo existe nele, dentro e fora. A capa é uma entrada e talvez uma saída, para entrar outra vez. Ela contém segredos (desdobrar a badana e espreitar o interior da capa), lança as “linhas” da proposta, e a geometria da figura entra no interior, o padrão repete-se, fragmenta-se, fora do enquadramento, nas bordas da página, extrema-se como presença, obsessiva e subtil, ao mesmo tempo. Também encontramos o artista dentro do livro, ele próprio o segura, como coisa palpável, coisa existente, admirável mise en abyme que se empreende e projecta de forma livre e expansiva.
A folha, (pétala), é o motivo que Fernando Marante repete, e que faz viver de muitas formas na imagem, - em grande, pequeno, e médio plano - em trânsito pelas páginas, real e imaginária, presa e livre, abstracta e concreta, metamorfoseada, enfim, inconformada.
A natureza auto-representativa, de Objecto Objecto Objecto, é reveladora, tem a força da sua materialidade. O convite narrativo é ao mesmo tempo intrínseco e extrínseco, a matéria visual apelativa e háptica convida ao toque (sem querer estragar).
Muitas histórias podem ali estar, o seu estado mutável fazem a sua permanência, dá-nos matéria e material cuidado, concebido por uma morfologia inesperada, cosida à mão, feita pelas mãos, peça a peça, livro a livro. No interior, ou no miolo central, há mais um segredo, uma miniatura, criatura insondável, a explorar, a folhear...
Há muita coisa neste objecto que é um livro, neste gesto artesanal e múltiplo, tocável e impermanente, fugidio e muito presente.
É preciso descobrir Objecto Objecto Objecto!”.